27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Veja os “casos isolados” das milícias de Bolsonaro

Formador de opinião e com um discurso de ódio, ele acaba alimentando estas situações e uma declaração mais enfática dele não a encerra

Quando questionado sobre os atos de violência ocorridos em diversos locais do Brasil, provocado por eleitores de Bolsonaro, o candidato a presidência Jair Bolsonaro (PSL) disse não ter como controlar o que chamou de “casos isolados”.

E foi além: “Peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam. São casos isolados que a gente lamenta e espera que não ocorram”, afirmou Bolsonaro. Em seguida, o presidenciável afirmou que “a violência” e “a intolerância”, na verdade, vêm do outro lado. “Eu sou a prova, graças a Deus, viva disso daí”, comentou.

O atentado contra Bolsonaro foi uma fatalidade, lamentada e criticada por todos os demais candidatos. Entretanto, por algum motivo, Bolsonaro não condena os inúmeros casos de seus apoiadores. E ao chamar de casos isolados, os minimiza mais ainda.

Formador de opinião e com um discurso de ódio, ele acaba alimentando estas situações e uma declaração mais enfática dele não a encerra. E, infelizmente, não são casos isolados.

Facadas por votar em Haddad

Os “casos isolados”

Mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, conhecido como Moa do Katende, foi morto a facadas em Salvador, nesta segunda (8), após dizer que votou no PT. Foram 12 perfurações, a maioria pelas costas.

Dois jovens, gays assumidos, foram expulsos do condomínio ondem moravam no Pará, após declararam não voltar em Bolsonaro. Eles foram expulsos, exatamente, por apoiadores do candidato do PSL.

Apenas por usar uma camisa vermelha, um homem foi agredido em Teresina.

Em Natal, eleitores do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) ameaçaram de morte um professor de Natal. O ataque aconteceu após uma explicação do docente sobre a aplicação da Lei Rouanet, que foi vista como ato político pelo pai de um aluno. Ele explicava por que símbolos de estatais como a Petrobras apareciam na abertura de filmes nacionais, indicando que se tratava de apoio por meio da Lei Rouanet.

Num ato deplorável, torcedores do Palmeiras cantavam no metrô, a plenos pulmões, “ô bicharada toma cuidado, o Bolsonaro vai matar viado”, em São Paulo.

Não voltou em Bolsonaro

Aqui mesmo em Alagoas, Julyana Rezende Ramos Paiva, funcionária da Agência Reguladora de Serviços de Alagoas (Arsal) foi agredida com um soco no rosto. O fato aconteceu próximo a Escola Municipal Padre Pinho, no bairro de Cruz das Almas, em Maceió. Ela relata que foi questionada sobre o seu voto para presidente e depois de responder, foi agredida com socos e chutes.

Uma mulher de 53 anos foi agredida durante uma carreata do PT na cidade paranaense de Maringá, neste sábado (6). Filiada ao partido há mais de duas décadas e presidente do Sindaen (Sindicato dos Trabalhadores nas empresas de água, esgoto e saneamento de Maringá e região noroeste do Paraná), recebeu quatro pontos no dedo indicador e um no dedo mínimo em razão da confusão. Testemunhas relatam que o agressor chegou à carreata pilotando uma moto com adesivo de campanha do candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Apanhou por ser lésbica

Na madrugada da última terça-feira (28/6), a estudante e ativista Mayra de Souza, 27 anos, militante do movimento social Levante Popular da Juventude, foi xingada e agredida com dois socos no rosto por um simpatizante do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ) identificado pelo movimento LGBT como Diego Oliveira da Rocha. O caso aconteceu em Samambaia. A jovem estava em um bar com quatro amigas, quando foi abordada pelo agressor.

Em Goiás, um ginecologista se nego a atender mulheres que não votam em Jair Bolsonaro. Denúncia foi registrada por pacientes em vídeo. No passado, o mesmo médico foi condenado por retirar, sem autorização, o útero de uma mulher desempregada.

Já outra médica, do Rio Grande do Norte, rasgou receita após um paciente idoso dizer que votou em Haddad para presidente. Quando caso veio a tona, ela se mostrou “arrependida” e pediu desculpas.

Usava boné do MST

E na noite desta terça (8), um estudante da UFPR, que usava um boné do MST, foi violentado em frente à Universidade por membros de uma torcida organizada aos gritos de “Aqui é Bolsonaro!”. O estudante sofreu lesões na cabeça causadas por inúmeras garrafas de vidro quebradas pelos agressores. Além disso, houve depredação à Cada da Estudante Universitária de Curitiba (CEUC), que teve vidros quebrados.

Uma jovem de 19 anos, moradora de Porto Alegre, registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil por lesão corporal na noite de segunda-feira (8). Segundo o relato, ela vestia uma camiseta com os dizeres “Ele Não”, contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), quando foi abordada e agredida por três homens.

Marcada com uma suástica

A jovem descia de um ônibus, a caminho de casa, quando foi abordada pelos homens que passaram a questioná-la sobre o uso da camiseta. Os suspeitos teriam agredido a jovem com socos e marcado a barriga com riscos de canivete com o desenho da suástica nazista.

A ocorrência foi encaminhada para a 1ª Delegacia de Polícia Civil, que informou nesta quarta-feira (10) que o caso começou a ser investigado. Policiais buscam câmeras de segurança para tentar identificar os agressores.

Estes, e muitos outros casos, podem ser acompanhados nesta thread do Twitter.

Uma rápida passada é o suficiente para perceber: infelizmente, não são casos isolados. E com um cenário bélico e de muito ódio e repressão do candidato Jair Bolsonaro, os ânimos se inflamaram de uma forma nunca vista antes. E ainda faltam 18 dias para a votação do 2º turno.