27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Arthur Lira defende Bolsonaro, rejeita impeachment e critica CPI da Pandemia

Aliado do Planalto, o deputado alagoano nega demora do governo na compra de vacinas

O presidente da Câmara, Arthur Lira, está incomodado com o trabalho da CPI da Covid. Em entrevista ao O Globo, o aliado do presidente Jair Bolsonaro, ele defende que não houve atraso na compra de vacinas da Pfizer – mesmo diante dos 9 meses de silêncio do governo.

Apesar disso, Lira acredita que caso Bolsonaro tivesse adquirido os imunizantes antes, “não teria resolvido o problema da pandemia”. Apesar das 500 mil mortes por Covid-19 no Brasil, ele alega que essa tragédia não é motivo para instaurar um processo de impeachment contra o presidente da República. Falta uma “circunstância política”.

“Neste momento, a CPI é um erro. A guerra está no meio. Como é que você vai apurar crime de guerra no meio da guerra? Como vai dizer qual é o certo? Até dois meses atrás, o Chile era a nossa referência. Como está hoje? Por que está desse jeito se já vacinou 60%, 70%? No combate à pandemia, não tem receita de bolo pronta. Você não sabe qual variante (predomina), se fica ou sai de lockdown. A CPI polarizou politicamente e não vai trazer efeito algum, a não ser que pegue alguma coisa”. Arthur Lira, deputado federal.

Curiosamente, a entrevista foi divulgada no mesmo dia do depoimento de Osmar Terra à CPI, o primeiro deputado federal a fazer isso desde o início dos trabalho. Lira, inclusive, chegou a pedir para Omar Azis, senador que preside os trabalhos, a substituir a convocação de Terra por um simples convite.

O presidente da Câmara ainda afirma que a reforma administrativa deverá ser votada neste ano, mas promete que o texto final não vai afetar a vida dos atuais servidores públicos. Sobre a disputa eleitoral em 2022, com Bolsonaro e Lula no páreo, ele não acredita na possibilidade de uma terceira via. Ele ainda rechaçou qualquer chance de impeachment:

“A minha função no impeachment é de neutralidade. Não sou eu que faço o impeachment. Você quer dizer que o presidente Bolsonaro não tem voto na Câmara para segurar um pedido de impeachment? Que ele não tem base de apoio popular para se contrapor a um pedido de impeachment? Então, o que é que estão querendo? Que eu desorganize o país, que eu comece uma conflagração de 122 votos que querem contra 347 que não querem? Vocês querem testar? O que a população quer é testar? Acha que é o caminho? Vamos testar. O que eu estou dizendo é que o impeachment é feito com circunstâncias, com uma política fiscal desorganizada, uma política econômica troncha. O impeachment é político”. Arthur Lira

Réu

Líder do centrão e forte aliado de Bolsonaro, Lira assumiu a presidência da Câmara como réu no STF e fora da linha de sucessão de Bolsonaro e Mourão.

Precedente determinado pelo STF em 7 de dezembro de 2016 estabeleceu que réus em ações penais no STF podem até comandar uma das Casas do Congresso, mas não substituir o presidente e o vice, caso os dois se ausentem do território nacional.

Foto: Ana Oli

Na época, foram analisadas duas ações questionando os casos de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, que presidiram a Câmara e o Senado naquele ano, e também eram réus.

Arthur Lira responde a oito investigações, sendo réu em inquérito no STF, acusado de receber R$ 106 mil de propina do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Colombo.

Ex-mulher

Já na mira de ações penais no STF (Supremo Tribunal Federal), ele também passa por uma acusação enviada à Vara de Violência Doméstica do Distrito Federal, apresentado pela sua ex- mulher, mãe de seus dois filhos, Jullyene Cristine Santos Lins, em agosto do ano passado, ao STF.

Na petição, anexada a um processo em que Jullyene acusa Lira de injúria e difamação, ela afirma que “o medo a segue 24 horas por dia, pois sabe bem o que Lira é capaz de fazer por dinheiro”. Por outro lado, Lira diz que, ao longo do tempo, as denúncias da ex-mulher “mostraram-se infundadas”.

Jullyene diz que o deputado, com quem foi casada por dez anos, faz insultos não só contra ela, “mas também tentando diuturnamente promover o afastamento familiar dos filhos, principalmente o mais novo, com discursos de ódio e chantagens emocionais”. Cita o “enquadramento do querelado na Lei Maria da Penha e necessidade de proteção urgente” para ela e o seu atual companheiro.

O processo foi aberto em decorrência de outra ação de violência doméstica movida por Jullyene contra Lira, em que o deputado foi absolvido nove anos depois. Em 2006, ela apresentou queixa por lesão corporal contra o então deputado estadual à Polícia Civil.