25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

CPI ouve hoje Osmar Terra, ‘padrinho’ do gabinete paralelo e defensor da imunidade de rebanho

Veja aqui o histórico de erros crassos do médico e deputado federal que foi o ministro da Saúde informal de Bolsonaro e sabotou as medidas contra a Covid-19

A CPI da Pandemia ouve nesta terça-feira (22) o deputado Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania. Apontado como integrante do “gabinete paralelo” que orientava o presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento ao coronavírus, ele deve depor na condição de convidado.

A participação de Osmar Terra no “gabinete paralelo” foi citada pela primeira vez em maio, durante depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta à CPI. Na ocasião, Mandetta afirmou que “outras pessoas” buscavam desautorizar orientações do Ministério da Saúde a Jair Bolsonaro. Entre eles, o ex-ministro da Cidadania.

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Em um reunião realizada em setembro do ano passado com a presença do presidente da República, o parlamentar foi apresentado como “padrinho” de um grupo de médicos que apoiavam o uso de remédios sem eficácia contra a covid-19.

Erros crassos

incompetência e fracasso na gestão de um general, tido pelo presidente Jair Bolsonaro como um especialista em gestão, nunca foi questionada. A forma hedionda, teimosa e burra com que o próprio Bolsonaro lida com a pandemia também não.

Até por isso, é revoltante ter que desenhar o que há de errado neste período de crise e desmentir um hipócrita que usa a Bíblia para se passar por propagador da verdade. Hipócrita que continua mentido em suas ações nesta pandemia, e não é de hoje: tudo começou com seu ministro da Saúde não-oficial, o deputado Osmar Terra.

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‘E se fosse? Qual o problema?’, indaga Bolsonaro sobre existência do “gabinete paralelo”

Ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra é um médico que, muito antes de acredita no poder da cloroquina, vendeu e convenceu meio mundo de seguidores que a melhor coisa para fazer na pandemia era “nada”.

A ideia brilhante era a de fazer com que a covid-19, que faria tantos estragos quando a H1N1, se espalhasse no brasil de forma comunitária, infectando livremente a população. Isso para atingir a imunidade de rebanho – algo que nunca aconteceu de forma natural, apenas com vacinação.

Com seu “fato e versão do fato”, este irresponsável se tornou a voz da razão do presidente Jair Bolsonaro, que passou a convencer seu gado que a melhor solução era alcançar a imunidade de rebanho.

Corta para hoje, passamos de 500 mil mortos e a normalidade está longe de ser recuperada, pois durante meses nesta pandemia (uma tragédia que já dura mais que um ano), perdemos tempo com medidas simples, que até pessoas com deficiência intelectual são capazes de seguir: usar máscara e respeitar o distanciamento. Fora a insistência em não comprar vacinas.

Perdemos tempo falando em imunidade de rebanho e deixaram o vírus correr solto. Novas cepas e variantes brasileiras são mas contagiosas, letais e ameaçam até mesmo outros países. Isso tudo empurrando com a barriga a necessidade de compra de vacinas – ou mesmo cuidados mais simples.

O mesmo Terra, que precisou ser internado por conta da Covid-19, segue dizendo que “sempre esteve certo”, afirmando que quem vacina quer também a ‘imunidade de rebanho’. “Mas seu imbecil”, perguntaria o indignado, “desde quando deixar o vírus correr e vacinar são a mesma coisa”?

Claro, Bolsonaro também nunca voltou atrás de seus erros. Segue “infalível, perfeito, mestre dos golpes de mestre“. Isso, claro, só se a meta foi o genocídio, pois nem a sagrada economia conseguiriam safar.

Que nunca esqueçam: mortes na pandemia seriam inevitáveis, mas meio milhão de mortos na pandemia? Os culpados têm nome e sobrenome. Alguns mais do que os outros.

Ministro informal

Mesmo depois de não ser mais ministro, o deputado federal Osmar Terra era presença constante no Palácio do Planalto. E como um médico defensor da cloroquina e avesso às medidas de isolamento social, era visto como “ministro informal” da Saúde do presidente Jair Bolsonaro. O líder do gabinete paralelo.

Ele esteve em diversos compromissos oficiais com o presidente.

Entre estes compromissos, estava o de reunir os  “Médicos pela Vida”, grupo de profissionais defensores da cloroquina, que não têm eficiência comprovada no tratamento da covid-19, além de ter ajudado a conceber o criticado evento “Brasil vencendo a covid”.

Enquanto o Brasil “vencia a covid”, o país passava a marca de 115 mil mortes em decorrência da pandemia. Hoje já são mais de 500 mil.

Vale lembrar que em março do ano passado, o deputado fez projeções que não se confirmaram: apenas 40 mil casos (hoje temos mais de 18 milhões) e no máximo 2.000 mortos.

Nem mesmo depois de errar sua projeção em mais de 250 vezes, ele recuou. Quando o Brasil ainda tinha 10 mil mortes por coronavírus, Osmar Terra continuava criticando o isolamento social. “Depois que a epidemia está circulando, trancar as pessoas em casa é um erro”.

Bolsonaro, claro, compartilha as ideias de Terra. Ao longo da pandemia, ambos foram na contramão das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo o fim do isolamento social, mas não apresentaram comprovações técnicas para fundamentar o argumento. As reuniões do gabinete paralelo, inclusive, estão escancaradas e todos podem conferir.

E cá estamos aqui hoje: metade de 2021, aulas ainda não retornaram e um exército de negadores da pandemia atrapalha medidas simples da contenção do vírus, como uso da máscara e distanciamento social. Ao contrário do que previa insistentemente, a pandemia ainda não tem data para acabar no Brasil.

As mentiras

No início da pandemia, o deputado e ex-ministro publicou em seu perfil no Twitter um diagrama mostrando a queda nos novos casos de Covid-19 na Holanda. Avesso ao distanciamento social, no tweet, o deputado afirmou: “a Holanda, que não fez quarentena e não fechou uma loja, já passou do pico e está indo para o fim da epidemia”.

No entanto, o Governo da Holanda pediu que todas as pessoas ficasse em casa, além de manter escolas, restaurantes, bares, clubes, museus e academias com as portas fechadas. Eventos públicos foram proibidos, incluindo cultos religiosos. O Twitter chegou a apagar suas mensagens, pois propagavam mentiras.

Em outra publicação, Terra questionou a ‘quarentena radical’ de países como os Estados Unidos, Itália, Espanha, Irã e Alemanha. Em sua publicação o deputado afirmou que a medida não teve resultados:

“No Brasil, onde estamos sendo submetidos a uma quarentena radical que destrói nossa economia e empregos, eu pergunto: onde está o achatamento da curva??!! NÃO EXISTE. Com a quarentena ou não, chegaremos ao pico da epidemia antes do final de abril!”. Osmar Terra, em abril.

A publicação causou incômodo nas redes sociais e contradizia o então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, fazendo o termo ‘Osmar Trevas’ ficasse entre um dos mais comentados do Twitter no Brasil.

Entre os seguidores que questionaram o deputado, o repórter do Intercept Brasil , Andrew Fisher, chamou Osmar Terra de mentiroso e idiota.

Quando estava sendo cotado para o Ministério da Saúde, com o apoio de bolsonaristas que se opõem a medidas de isolamento social, Terra era o parlamentar que mais difundiu desinformação sobre o novo coronavírus no Twitter desde que a pandemia chegou ao Brasil.

A análise do Radar Aos Fatos considerou os 1.500 tweets sobre o assunto com mais interações (retweets e curtidas) publicados por membros da Câmara dos Deputados e do Senado (incluindo suplentes e licenciados) apenas entre 20 de fevereiro e 8 de abril de 2020.

No total, foram encontradas 159 postagens com desinformação veiculadas por 22 parlamentares e que somavam cerca de 1,58 milhão de interações no período.

Terra foi, sozinho, responsável por 38 desses posts (23,9%) e 522.485 dessas interações (32,9%). Em seguida, aparecem como maiores difusores de desinformação os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), cujas publicações enganosas tiveram 18% das interações, e Bia Kicis (PSL-DF), com 10%.

Ministro ainda afundou estudo de drogas

Durante três anos, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez 16 mil entrevistas com 500 pesquisadores para desenvolver o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira.

Este, um censo do consumo de substâncias lícitas e ilícitas no Brasil, custou R$ 7 milhões, pagos pelo governo. Mas acabou sendo engavetado pelo mesmo, já que a Fiocruz foi impedida de divulga-lo.

O estudo teria sido engavetado em 2019 porque não confirma a existência de uma epidemia de drogas no país, e vai de encontro com o achismo do então ministro da Cidadania, Osmar Terra.

E embora a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas ( Senad ), órgão ligado ao Ministério da Justiça, alegue que a pesquisa não é divulgada porque a Fiocruz não teria cumprido exigências do edital, o próprio Osmar Terra parece confirmar o que suspeitam os especialistas ao atacar a instituição e alegar que a pesquisa não comprova o que se vê “nas ruas”:

“Eu não confio nas pesquisas da Fiocruz. Se tu falares para as mães desses meninos drogados pelo Brasil que a Fiocruz diz que não tem uma epidemia de drogas , elas vão dar risada. É óbvio para a população que tem uma epidemia de drogas nas ruas. Eu andei nas ruas de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada. Temos que nos basear em evidências”. Osmar Terra, ministro da Cidadania.

Rejeitando o estudo, sua pasta preferiu seguir em frente com essa antiquada campanha contra drogas: