27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Em editorial, Jovem Pan teme “onda de indignação e temor pelo futuro” ao criticar STF por causa de Lula

Influente porta-voz dos bolsonaristas, grupo de comunicação ignora falas graves como ‘frescura e mimimi’ do presidente quando diz que ‘país precisa de tranquilidade, seriedade e postura ética’ na pandemia

Em editorial lançado nesta quinta-feira (11), o Grupo Jovem Pan de Comunicação, para quem não tinha nenhuma dúvida, assumiu de vez seu franco bolsonarismo, tomou as dores do presidente e se mostrou completamente contrária à decisão monocrática do ministro do STF, Edson Fachin, em retirar as condenações de Lula na Lava Jato.

Mas eles foram além.

O grupo afirmou que decisões como essa “mergulham o país em um cenário de incertezas, descrédito e desconfiança“, afirmando que as decisões são tomadas em “série de canetadas com motivações políticas.

Sem deixar de defender o deputado Daniel Silveira, preso após fazer uma live em que sugeria o fechamento do Judiciário e Congresso, o texto da Jovem Pan entra em uma imensa contradição ao falar da pandemia.

“Acossado pela pandemia, o país precisa de tranquilidade, seriedade e postura ética de seus juízes”. Editorial da Jovem Pan.

Sem citar nenhuma vez o nome do presidente Jair Bolsonaro, o grupo de forma direta pede ‘tranquilidade, seriedade e postura ética’ para que não se perpetue ‘uma onda de indignação e temor pelo futuro’ do Brasil.

Nada sobre as incertezas, descrédito ou desconfiança (mencionadas no editorial) sobre intervenções de Bolsonaro na Petrobrás, que resultaram em perdas bilionárias para a estatal e, mais importante, toda a sua ingerência e sabotagem em todas as ações do país na pandemia.

Aparentemente, há certamente algo de errado no Brasil segundo a Jovem Pan. Mas nada que aponte para o presidente Bolsonaro. Augusto Nunes, por exemplo, âncora da Record News e que na Jovem Pan apresenta o Pingo nos Is, programa reaça que tem uma caneca cativa nas lives de Bolsonaro, disse no mesmo dia que ‘governadores estão chegando a extremos que não se viu nem durante o AI-5’.

Curioso ou não, o editorial do Grupo vem sendo compartilhado no Twitter, em especial com a hashtag #EuSouOExércitoDoBrasil

Pois bem: diante de mais de 2 mil mortes diárias, em uma pandemia que já matou mais de 273 mil pessoas, posicionamentos como esse em grupos de comunicação tão influentes são, no mínimo, preocupantes.

Confira o editorial na íntegra

Decisões monocráticas, frequentemente tomadas pelos ministros do STF, o Supremo Tribunal Federal, mergulham o país em um cenário de incertezas, descrédito e desconfiança. A mais recente, que anulou as condenações impostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e transformou em réu o juiz Sergio Moro, é o último capítulo da série de canetadas com motivações políticas. Vale lembrar que foram os ministros do STF que soltaram o médico estuprador Roger Abdelmassih. Também foi essa Corte que pôs na rua o traficante André do Rap, ainda foragido. O doleiro da Lava Jato Chaaya Moghrabi foi solto por três vezes. As ingerências sobre os outros poderes, como a prisão do deputado Daniel Silveira, causam desconforto na relação entre Judiciário, Legislativo e Executivo. Para citar apenas alguns casos de extensa lista. O que faz a mais alta Corte de Justiça pelo Brasil? Acossado pela pandemia, o país precisa de tranquilidade, seriedade e postura ética de seus juízes. O que se vê é uma onda de indignação e temor pelo futuro de nosso país. O Brasil não precisa de mais problemas. Essa é a opinião do Grupo Jovem Pan de Comunicação“. Grupo Jovem Pan de Comunicação.