27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Em entrevista, Dilma diz que Bolsonaro faz política de desprezo por direitos

Direitos sociais, humanos e trabalhistas e pelo meio ambiente no país são afetados diretamente pelo atual governo

A ex-presidente Dilma Rousseff concedeu entrevista ao UOL, em sua residência. E o tema foi o presidente Jair Bolsonaro, que segunda a petista, ele é útil para a realização de “reformas neoliberais” nos próximos anos, conseguirá manter “uma política de desprezo por direitos sociais, humanos e trabalhistas e pelo meio ambiente no país”.

Presidente da República entre 2011 e 2016, Dilma Rousseff teve seu mandato cassado pelo Congresso Nacional e participou de organizações de resistência contra a ditadura militar, tendo sido torturada e presa.

“Só acho muito estranho eles negarem que eu tenha sido torturada como fizeram com a jornalista Miriam Leitão porque o próprio presidente da República, como deputado federal, foi quem disse que o coronel Carlos Brilhante Ustra (ex-chefe do DOI-Codi, acusado de tortura) foi o meu “terror”. Suponho que foi o meu “terror” porque me torturou”. Dilma Roussef, ex-presidente do Brasil.

Em retrospectiva, disse que se tivesse continuado no poder, teria feito uma Reforma da Previdência, mas diferente da proposta por Jair Bolsonaro.

“É muito difícil fazer uma Reforma da Previdência em um quadro de grave crise econômica como estamos enfrentando. Quanto mais há crescimento econômico, mais há trabalho disponível e emprego e os descontos para a aposentadoria. Quando há crescimento econômico saudável, não tem precarização ou trabalho parcial, há trabalho formalizado, em carteira e a contribuição também aparece. Mas é óbvio que precisa de ajustes por conta da expectativa de vida. Nós fizemos um dos ajustes, que foi o fator previdenciário. E a gente estava em discussão em como construir uma alteração permanente”. Dilma Roussef.

E afirma que não vai se candidatar em 2020 ou 2022, dizendo que tanto ela quanto Lula estão no processo de “passar o bastão”, evitando citar nomes de novas lideranças do PT que devem sucedê-lo.

“Quem disse que as lideranças serão só do nosso partido? Eu citei o Boulos até para enfatizar esse fato. Cito o governador Flávio Dino (PC do B) para enfatizar também. Porque elas estão surgindo. Quanto mais as pessoas aparecerem e estiverem nas suas lutas e nas lutas do país, mais lideranças nós vamos ter. Agora é a hora que vão nascer muitas”. Dilma Roussef.

Ela alertou ainda que o governo vai tentar “privatizar as universidades federais no Brasil” e que a Educação se tornou a pauta unificadora da ala progressista da sociedade, mais do que as aposentadorias e o mercado de trabalho. E avalia que um novo projeto de esquerda para enfrentar a extrema direita ainda está em construção

“Este é um governo neoliberal e neofascista. Essa visão incomoda o centrão, a direita mais civilizada, a centro-direita. Eles achavam que iriam tutelar o Bolsonaro, que iriam conseguir fazer com que se civilizasse um pouco. E não os constrangesse com as manifestações toscas, não civilizadas, grosseiras que ele faz sistematicamente.” Dilma Roussef.

Militares

Sobre a Comissão da Verdade, atacada recentemente por Bolsonaro, a ex-presidente disse que não há relação entre o estabelecimento da Comissão para que fossem esclarecidas mortes e desaparecimentos durante a ditadura. Isso diante da postura do Exército com relação ao governo Temer, à prisão do Lula e a eleição de Bolsonaro:

“Atribuir à Comissão da Verdade o fato de que alguns militares tenham ido para o governo Temer e para governo Bolsonaro é absolutamente equivocado, frágil, inconsistente. Até porque foi no governo do Lula e no meu que várias questões centrais em relação às Forças Armadas foram tratadas e com muito respeito e visão estratégica de país e de soberania nacional. Não acho que, no momento do golpe parlamentar, o Exército tenha tido uma ação pró-golpe. No máximo foi uma omissão, mas a omissão do Exército é melhor do que a ação”. Dilma Roussef, ex-presidente do Brasil.