26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Ministro Araújo “corrige” Nasa: ‘Satélite não diferencia fogueira de incêndio’

Em reunião com investidores e empresários, ministro contestou dados da Nasa e disse que queimadas estão na média

Durante reunião fechada com investidores e empresários americanos, nesta quinta-feira (12) em Washington, o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) criticou os dados divulgados sobre o aumento das queimadas na Amazônia e fez críticas a levantamentos baseados em satélites que, segundo ele, não diferenciam “fogueiras de acampamento” de “grandes incêndios.”

Em uma palestra na Câmara de Comércio dos EUA, Araújo distribuiu papéis produzidos pela embaixada do Brasil em Washington com dados para respaldar seu discurso de que as queimadas na floresta estão na média dos índices registrados nos últimos 15 anos.

O chanceler encerrou seu discurso sobre a relação entre Brasil e EUA com a mensagem de que os incêndios que atingem a Amazônia, com repercussão internacional, não são de grande proporção nem fruto de uma política ambiental negligente do governo Jair Bolsonaro.

Segundo relatos de participantes do encontro, Araújo disse que as queimadas tinham maior alcance em outros anos, mas que a imprensa estrangeira não queria criticar o governo da época, em referência às gestões do PT.

No entanto, dados do próprio governo brasileiro apontam que os focos de queimadas cresceram 82% em relação ao ano passado. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento vem avançando em relação a anos anteriores. Os meses de junho e julho, respectivamente, apresentaram aumento de 90% e 278% no desmate em comparação aos mesmos meses de 2018.

Em meio à crescente destruição, o governo brasileiro passou a contestar, sem provas, os dados do Inpe, e o diretor do instituto, Ricardo Galvão, acabou demitido.

Nasa

A Nasa, agência espacial americana, por sua vez, reportou que 2019 foi o pior ano de incêndios na floresta desde 2010, com “perceptível aumento de focos de queimadas grandes, intensas e persistentes ao longo das principais rodovias do centro da Amazônia do Brasil.”

O monitoramento da Nasa é feito justamente por satélites que, segundo especialistas, são os primeiros a detectar queimadas em áreas remotas.

Pesquisadores da Agência Especial Americana, que monitoram focos de queimada no planeta afirmam que seus dados sobre o Brasil estão consistentes com o aumento abrupto que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais) vem reportando nas últimas semanas.

Segundo Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Maryland, há  sinais de que o desmatamento está aumentando.

Além disso, é possível correlacionar os principais focos de calor detectados pelos satélites Terra e Aqua da Nasa ao corte raso de floresta na região, e não a outros tipos de atividade que implicam queimadas sem desmatamento, como limpeza de pastos, preparo de plantios ou queima de bagaços.

“Dez dias atrás, olhei as imagens dos nosso sensores dos satélites em órbita e eles mostravam claramente os focos de calor separados, com colunas de fumaça enormes saindo daquelas áreas da fronteira agrícola, como Novo Progresso, a região da Terra do Meio, no Pará, e o sudeste do estado do Amazonas. Não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumaça se aquilo for somente limpeza de pasto”. Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas de Voo Espacial da Nasa.

Diante desta declaração, já foi possível concluir que, ao contrário do que afirma (sem provas) o presidente Jair Bolsonaro, as ONGs não são responsáveis pelas queimadas.