Após vários dias em silêncio sobre a investigação no Ministério Público do Rio de Janeiro aberta após movimentações atípicas serem encontradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) disse na TV Record que os milhões que movimentou, com ajuda ou não de seu ex-assessor Queiroz, foram graças a compra e venda de apartamentos.
Documentos m cartórios mostram que o filho do presidente registrou, de 2014 a 2017, mesmo período da movimentação dos R$ 7 milhões de Queiroz, a aquisição de dois apartamentos em bairros nobres do Rio de Janeiro, ao custo informado de R$ 4,2 milhões.
A escritura de uma cobertura em Laranjeiras mostrou ficou estabelecido que, além da permuta de dois imóveis, o ex-atleta Fábio Guerra deveria pagar R$ 600 mil, em março e agosto de 2017.
Mas os 48 depósitos de Flávio foram feitos em junho e julho daquele ano. A escritura foi finalizada em 23 de agosto de 2017.
Os primeiros R$ 550 mil foram um sinal pago no dia 24 de março de 2017. O documento descreve ainda o pagamento de R$ 50 mil, por intermédio de cinco cheques, no ato da escritura. O problema é que Fábio Guerra afirmou que parte dos R$ 600 mil foi pago em dinheiro vivo, ao longo de “dois ou três meses”. O ex-atleta afirmou não ter recibos das operações.
O imóvel foi R$ 2,4 milhões, o (apartamento) que era dele aqui (a cobertura de Laranjeiras comprada por Guerra). Eu dei o meu lá (na Urca). Está tudo na escritura por R$ 1,5 milhão. Dei uma sala comercial de R$ 300 mil, R$ 50 mil em cheque e R$ 550 mil foi feito em depósito, e cerca de R$ 100 mil em dinheiro, que não foi feito (o pagamento) de uma vez só. Eu dei assim em dois ou três meses. Não dei R$ 100 mil de uma vez só não, entendeu? Eu vendi um imóvel no passado para poder pagar ele. Eu peguei parte em dinheiro (da venda) também e dei para ele. Fábio Guerra, ex-atleta e comprador do imóvel de Flávio Bolsonaro.
Na semana passada, o Jornal Nacional revelou que o senador eleito recebeu R$ 96 mil em um período de cinco dias, entre junho e julho de 2017. Foram 48 depósitos no valor de R$ 2.000, realizados em espécie no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).
Em entrevista para a TV Record, Flávio Bolsonaro disse que o dinheiro dos depósitos fracionados feitos em 2017 era proveniente da venda de um apartamento.
O limite aceito no caixa eletrônico é de R$ 2 mil, mas a maior parte dos depósitos foi feita em horário de expediente bancário. Logo, o dinheiro poderia ter sido depositado de uma única vez na boca do caixa, e não fracionado.
Flávio e Queiroz
Fabrício Queiroz, ex-motorista do deputado estadual, é investigado sob suspeita de ser o pivô de um esquema ilegal de arrecadação de parte dos salários de servidores do gabinete, prática conhecida como rachadinha.
Antes de resolver das explicações, Flávio Bolsonaro sumiu das redes sociais e pediu foro privilegiado no STF, para que a investigação de seu ex-assessor, o amigo Queiroz, fosse suspensa e apelou pro conforto do pai, que vinha sendo criticado. Antes disso, Queiroz havia dito que movimentou R$ 1 milhão vendendo carros, antes da denúncia dos R$ 7 milhões.
Até mesmo um valor de R$ 24 mil foi depositado na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro. O presidente disse que havia sindo um empréstimo. Ele não gostou dos tons das denúncias e disse que as provas foram obtidas de forma ilegal.
Até janeiro do ano passado, Bolsonaro e seus três filhos eram dono de 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões, a maioria em pontos valorizados do Rio. No mesmo período, Flávio havia negociado ao menos 19 imóveis nos últimos 13 anos.
Vale lembrar que ao menos em parte das transações, o valor declarado pelos compradores e vendedores é menor do que aquele usado pela prefeitura para cobrança de impostos.
Qando começou na vida pública em 2002, o senador eleito tinha como único bem na época um Gol 1.0, segundo sua declaração de bens.
O salário de um deputado estadual do Rio é de R$ 25,3 mil brutos. Na entrevista, Flávio Bolsonaro afirmou que o salário é a menor parte de seus rendimentos, creditando seu maior volume à atividade empresarial, mas sem especificar qual seria o negócio.
“Não tem. Explico mais uma vez. Sou empresário, o que ganho na minha empresa é muito mais do que como deputado. Não vivo só do salário de deputado”, Flávio Bolsonaro, senador eleito.
Ele é sócio da Bolsotini Chocolates e Café Ltda, uma franquia da Kopenhagen no Via Parque Shopping, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. De acordo com a Receita Federal, a empresa foi aberta em 7 de janeiro de 2015 e tem mais um sócio. Essa foi a única atividade empresarial que o senador eleito declarou em toda a sua trajetória política, desde 2002.
Entrevista na TV Record