27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Escritura de imóvel não bate com datas dos depósitos de Flávio Bolsonaro

Venda do apartamento dada como explicação para movimentação atípica, aconteceu, segundo escrituras, mais de um mês após os 48 depósitos

Após vários dias em silêncio sobre a investigação no Ministério Público do Rio de Janeiro aberta após movimentações atípicas serem encontradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) disse na TV Record que os milhões que movimentou, com ajuda ou não de seu ex-assessor Queiroz, foram graças a compra e venda de apartamentos.

Documentos m cartórios mostram que o filho do presidente registrou, de 2014 a 2017, mesmo período da movimentação dos R$ 7 milhões de Queiroz, a aquisição de dois apartamentos em bairros nobres do Rio de Janeiro, ao custo informado de R$ 4,2 milhões.

A escritura de uma cobertura em Laranjeiras mostrou ficou estabelecido que, além da permuta de dois imóveis, o ex-atleta Fábio Guerra deveria pagar R$ 600 mil, em março e agosto de 2017.

Mas os 48 depósitos de Flávio foram feitos em junho e julho daquele ano. A escritura foi finalizada em 23 de agosto de 2017.

Os primeiros R$ 550 mil foram um sinal pago no dia 24 de março de 2017. O documento descreve ainda o pagamento de R$ 50 mil, por intermédio de cinco cheques, no ato da escritura. O problema é que Fábio Guerra afirmou que parte dos R$ 600 mil foi pago em dinheiro vivo, ao longo de “dois ou três meses”. O ex-atleta afirmou não ter recibos das operações.

O imóvel foi R$ 2,4 milhões, o (apartamento) que era dele aqui (a cobertura de Laranjeiras comprada por Guerra). Eu dei o meu lá (na Urca). Está tudo na escritura por R$ 1,5 milhão. Dei uma sala comercial de R$ 300 mil, R$ 50 mil em cheque e R$ 550 mil foi feito em depósito, e cerca de R$ 100 mil em dinheiro, que não foi feito (o pagamento) de uma vez só. Eu dei assim em dois ou três meses. Não dei R$ 100 mil de uma vez só não, entendeu? Eu vendi um imóvel no passado para poder pagar ele. Eu peguei parte em dinheiro (da venda) também e dei para ele. Fábio Guerra, ex-atleta e comprador do imóvel de Flávio Bolsonaro.

Na semana passada, o Jornal Nacional revelou que o senador eleito recebeu R$ 96 mil em um período de cinco dias, entre junho e julho de 2017. Foram 48 depósitos no valor de R$ 2.000, realizados em espécie no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Em entrevista para a TV Record, Flávio Bolsonaro disse que o dinheiro dos depósitos fracionados feitos em 2017 era proveniente da venda de um apartamento.

O limite aceito no caixa eletrônico é de R$ 2 mil, mas a maior parte dos depósitos foi feita em horário de expediente bancário. Logo, o dinheiro poderia ter sido depositado de uma única vez na boca do caixa, e não fracionado.

Flávio e Queiroz

Fabrício Queiroz, ex-motorista do deputado estadual, é investigado sob suspeita de ser o pivô de um esquema ilegal de arrecadação de parte dos salários de servidores do gabinete, prática conhecida como rachadinha.

Antes de resolver das explicações, Flávio Bolsonaro sumiu das redes sociais e pediu foro privilegiado no STF, para que a investigação de seu ex-assessor, o amigo Queiroz, fosse suspensa e apelou pro conforto do pai, que vinha sendo criticado. Antes disso, Queiroz havia dito que movimentou R$ 1 milhão vendendo carros, antes da denúncia dos R$ 7 milhões.

Até mesmo um valor de R$ 24 mil foi depositado na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro. O presidente disse que havia sindo um empréstimo. Ele não gostou dos tons das denúncias e disse que as provas foram obtidas de forma ilegal.

Até janeiro do ano passado, Bolsonaro e seus três filhos eram dono de 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões, a maioria em pontos valorizados do Rio. No mesmo período, Flávio havia negociado ao menos 19 imóveis nos últimos 13 anos.

Vale lembrar que ao menos em parte das transações, o valor declarado pelos compradores e vendedores é menor do que aquele usado pela prefeitura para cobrança de impostos.

Qando começou na vida pública em 2002, o senador eleito tinha como único bem na época um Gol 1.0, segundo sua declaração de bens.

O salário de um deputado estadual do Rio é de R$ 25,3 mil brutos. Na entrevista, Flávio Bolsonaro afirmou que o salário é a menor parte de seus rendimentos, creditando seu maior volume à atividade empresarial, mas sem especificar qual seria o negócio.

“Não tem. Explico mais uma vez. Sou empresário, o que ganho na minha empresa é muito mais do que como deputado. Não vivo só do salário de deputado”, Flávio Bolsonaro, senador eleito.

Ele é sócio da Bolsotini Chocolates e Café Ltda, uma franquia da Kopenhagen no Via Parque Shopping, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. De acordo com a Receita Federal, a empresa foi aberta em 7 de janeiro de 2015 e tem mais um sócio. Essa foi a única atividade empresarial que o senador eleito declarou em toda a sua trajetória política, desde 2002.

Entrevista na TV Record