26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Incompetente e mentiroso, Osmar Terra ainda é “informalmente” um ministro de Bolsonaro

Avesso ao isolamento social e defensor da cloroquina, médico previu apenas 2.100 mortes e que pandemia acabaria em 13 semanas

Apesar de não ser mais ministro desde que foi demitido em fevereiro da pasta da Cidadania, o deputado federal Osmar Terra é presença constante no Palácio do Planalto. E como um médico defensor da cloroquina e avesso às medidas de isolamento social, já é visto como “ministro informal” da Saúde do presidente Jair Bolsonaro.

Desde maio, Terra já esteve em nove compromissos oficiais com o presidente, mesmo número de vezes em que Bolsonaro esteve com Eduardo Pazuello, general que foi efetivado no comando do Ministério da Saúde após quatro meses como interino na função.

Entre estes compromissos, estava o de reunir os  “Médicos pela Vida”, grupo de profissionais defensores da cloroquina, que não têm eficiência comprovada no tratamento da covid-19, além de ter ajudado a conceber o criticado evento “Brasil vencendo a covid”.

Enquanto o Brasil “vencia a covid”, o país passava a marca de 115 mil mortes em decorrência da pandemia. Hoje já são mais de 140 mil.

Vale lembrar que em março, o deputado fez projeções que não se confirmaram: apenas 40 mil casos (hoje temos mais de 1 milhão) e no máximo 2.000 mortos.

Nem mesmo depois de errar sua projeção em mais de 70 vezes, ele recuou. Quando o Brasil ainda tinha 10 mil mortes por coronavírus, Osmar Terra continuava criticando o isolamento social. “Depois que a epidemia está circulando, trancar as pessoas em casa é um erro”.

Bolsonaro, claro, compartilha as ideias de Terra. Ao longo da pandemia, ambos foram na contramão das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo o fim do isolamento social, mas não apresentaram comprovações técnicas para fundamentar o argumento.

E cá estamos aqui hoje: final de setembro, aulas ainda não retornaram e um exército de negadores da pandemia atrapalha medidas simples da contenção do vírus, como uso da máscara e distanciamento social. Ao contrário do que previa insistentemente, a pandemia ainda não tem data para acabar no Brasil.

As mentiras

No início da pandemia, o deputado e ex-ministro publicou em seu perfil no Twitter um diagrama mostrando a queda nos novos casos de Covid-19 na Holanda. Avesso ao distanciamento social, no tweet, o deputado afirmou: “a Holanda, que não fez quarentena e não fechou uma loja, já passou do pico e está indo para o fim da epidemia”.

No entanto, o Governo da Holanda pediu que todas as pessoas ficasse em casa, além de manter escolas, restaurantes, bares, clubes, museus e academias com as portas fechadas. Eventos públicos foram proibidos, incluindo cultos religiosos. O Twitter chegou a apagar suas mensagens, pois propagavam mentiras.

Em outra publicação, Terra questionou a ‘quarentena radical’ de países como os Estados Unidos, Itália, Espanha, Irã e Alemanha. Em sua publicação o deputado afirmou que a medida não teve resultados:

“No Brasil, onde estamos sendo submetidos a uma quarentena radical que destrói nossa economia e empregos, eu pergunto: onde está o achatamento da curva??!! NÃO EXISTE. Com a quarentena ou não, chegaremos ao pico da epidemia antes do final de abril!”. Osmar Terra, em abril.

A publicação causou incômodo nas redes sociais e contradizia o então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, fazendo o termo ‘Osmar Trevas’ ficasse entre um dos mais comentados do Twitter no Brasil.

Entre os seguidores que questionaram o deputado, o repórter do Intercept Brasil , Andrew Fisher, chamou Osmar Terra de mentiroso e idiota.

Quando estava sendo cotado para o Ministério da Saúde, com o apoio de bolsonaristas que se opõem a medidas de isolamento social, Terra era o parlamentar que mais difundiu desinformação sobre o novo coronavírus no Twitter desde que a pandemia chegou ao Brasil.

A análise do Radar Aos Fatos considerou os 1.500 tweets sobre o assunto com mais interações (retweets e curtidas) publicados por membros da Câmara dos Deputados e do Senado (incluindo suplentes e licenciados) entre 20 de fevereiro e 8 de abril.

No total, foram encontradas 159 postagens com desinformação veiculadas por 22 parlamentares e que somavam cerca de 1,58 milhão de interações no período.

Terra foi, sozinho, responsável por 38 desses posts (23,9%) e 522.485 dessas interações (32,9%). Em seguida, aparecem como maiores difusores de desinformação os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), cujas publicações enganosas tiveram 18% das interações, e Bia Kicis (PSL-DF), com 10%.

Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania, era um dos nomes de Bolsonaro para substituir Mandetta na Saúde

Ministro afundou estudo de drogas

Durante três anos, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez 16 mil entrevistas com 500 pesquisadores para desenvolver o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira.

Este, um censo do consumo de substâncias lícitas e ilícitas no Brasil, custou R$ 7 milhões, pagos pelo governo. Mas acabou sendo engavetado pelo mesmo, já que a Fiocruz foi impedida de divulga-lo.

O estudo teria sido engavetado em 2019 porque não confirma a existência de uma epidemia de drogas no país, e vai de encontro com o achismo do então ministro da Cidadania, Osmar Terra.

E embora a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas ( Senad ), órgão ligado ao Ministério da Justiça, alegue que a pesquisa não é divulgada porque a Fiocruz não teria cumprido exigências do edital, o próprio Osmar Terra parece confirmar o que suspeitam os especialistas ao atacar a instituição e alegar que a pesquisa não comprova o que se vê “nas ruas”:

“Eu não confio nas pesquisas da Fiocruz. Se tu falares para as mães desses meninos drogados pelo Brasil que a Fiocruz diz que não tem uma epidemia de drogas , elas vão dar risada. É óbvio para a população que tem uma epidemia de drogas nas ruas. Eu andei nas ruas de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada. Temos que nos basear em evidências”. Osmar Terra, ministro da Cidadania.

Rejeitando o estudo, sua pasta preferiu seguir em frente com essa antiquada campanha contra drogas: