26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Com mentiras, Ernesto Araújo se enrola nos EUA ao explicar posições do governo

Ministro foi questionado por imprensa estrangeira sobre relação entre clima e ameaça de intervenção no Brasil

Foram três dias nos Estados Unidos e o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) não conseguiu explicar detalhes das medidas tomadas pelos americanos para ajudar no combate às queimadas na Amazônia.

Não só isso, como ele foi pressionado pela imprensa estrangeira a explicar sua tese de que há uma tentativa de intervenção no Brasil quando o assunto é o clima e a crise na floresta.

Essa conspiração é ecoada pelo chanceler, afirmando que políticos têm feito uso do discurso sobre aquecimento global para dar um caráter internacional à crise na Amazônia e, dessa forma, ferir a soberania brasileira.

Uma jornalista do Los Angeles Times pediu que o ministro desse exemplos sobre essa possível intervenção. Na resposta, ele defendeu a ideia de que a limitação da soberania do território brasileiro “foi sugerida por alguns líderes do mundo.”. O jornalista perguntou quais, mas o chanceler se limitou a dizer que havia “um artigo na Foreign Policy defendendo isso.”

O texto publicado na revista dos EUA, porém, não foi escrito por nenhum líder mundial, mas por um professor na universidade de Harvard. É até frustrante seguir isso chamando de fake news: é mentira mesmo. O ministro mente.

Fundo e EUA

Enrolado, Araújo precisou de ajuda de seus auxiliares para tentar explicar o funcionamento do fundo de investimentos dos EUA para preservar a biodiversidade da Amazônia e não sabia dar detalhes sobre os peritos da Guarda Florestal americana que chegaram no Brasil nesta semana para ajudar na investigação dos focos de incêndio.

“Os EUA já ofereceram um time de especialistas e um avião especializado que chegou sexta (13) no Brasil para essa cooperação específica e, sobre o fundo de investimento, precisa ser implementado”. Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores.

No site da pasta a informação é que a ajuda americana chegou na quinta-feira (12) em Brasília e não fala em avião de apoio dos EUA.

Já o Fundo de Investimento de Impacto sobre a Biodiversidade, no valor de US$ 100 milhões (cerca de R$ 408 milhões) ao longo dos próximos 11 anos, foi resultado da visita de Jair Bolsonaro à Casa Branca, há seis meses. Além de não ter nada a ver com o desenvolvimento da Amazônia, o governo brasileiro diz que seu formato “ainda está sendo estudado.”

A culpa é da esquerda

Mas e o PT? Claro que ele jogou a culpa na esquerda. O chanceler insistiu na retórica de que as queimadas “não são catastróficas” e “estão dentro da média dos últimos anos” apesar de dados de órgão do próprio governo, como o Inpe, confirmarem que houve aumento de 82% nas queimadas em relação ao ano passado.

Para o chanceler, as queimadas eram maiores durante “governos de esquerda”, mas a imprensa não fazia críticas à época. “As esquerdas fazem e falam o que querem.”

Aquecimento Global

O jornalista do jornal Washington Post, Ishaan Tharoor, que já havia criticado Ernesto por seu discurso em que falava sobre “climatismo“, questionou se a intenção do Brasil era levar a mesma retórica à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Como é de praxe, o presidente brasileiro abre os debates, o que este ano acontece na próxima terça-feira (24).

O chanceler manteve sua posição, disse que Bolsonaro irá “se basear na verdade” quando falar na ONU e que o Brasil está “sereno e confiante” de que esse é o melhor discurso.

O detalhe é que a “verdade” pode ser distorcida a ponto de ser “mentira”: além de querer corrigir a Nasa, dizendo que os satélites não diferenciam fogueira de incêndio, ele já chegou a dizer que os termômetros acusam aquecimento global pois estão detectando a temperatura do asfalto. No meio da floresta e no meio do oceano. E há quem ainda acredite nisso.