26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Continua a guerra civil, por (muito) dinheiro, no PSL de Bolsonaro e Bivar

Partido administrará fundos que podem chegar a R$ 300 milhões ao longo do próximo ano

O presidente Jair Bolsonaro já avalia formar uma espécie de “batalhão governista” para blindar a pauta legislativa de eventuais retaliações de integrantes de seu próprio partido ligados ao presidente nacional da sigla, deputado federal Luciano Bivar (PE).

Com 53 deputados, a legenda tem a segunda maior bancada na Câmara, ficando atrás apenas do PT, mas vive uma espécie de guerra civil. Em reunião da Executiva do PSL foi decidia a abertura de processo disciplinar contra 19 parlamentares, mas um grupo bolsonarista conseguiu uma liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios para travar qualquer tipo de punição.

Ao retornar de viagem pelo continente asiático, o presidente pretende se reunir, no Palácio do Planalto, com representantes das bancadas temáticas da bala, evangélica e ruralista para pedir apoio contra possíveis movimentos de boicote. A ideia é tentar se antecipar a iniciativas de adversários internos.

Delegado Waldir é um dos que abriu guerra contra os bolsonaristas

Briga pela liderança e dinheiro

Em uma série de embates, que envolvem o antigo líder, Delegado Waldir, que chamou Bolsonaro de “vagabundo”, a deputada federal Joice Hasselmann, que acusa os filhos do presidente de disseminarem fake news, o presidente do partido, Luciano Bivar, alvo de operação da Polícia Federal, e a família presidencial, a sigla passa por um período conturbado.

E tudo isso tem um motivo principal: quem tiver o comando da legenda definirá a estratégia nas eleições municipais de 2020, com papel fundamental na definição de candidatos, e administrará fundos que podem chegar a R$ 300 milhões ao longo do próximo ano.

Um ano antes, o bom resultado nas eleições de 2018 veio acompanhado de uma série de crises. Descobriu-se que o partido teve um esquema de candidaturas laranjas para desviar dinheiro público para empresas ligadas ao ministro do Turismo, Marcelo Antônio, deputado federal mais votado em Minas Gerais.

O Presidente da República, Jair Bolsonaro, ao lado de Marcelo Álvaro Antônio, Ministro de Estado do Turismo.. Foto: Isac Nóbrega/PR

O caso levou Bolsonaro a demitir do governo o secretário Bebianno, que havia comandado a legenda no ano passado e em agosto o PSL expulsou o deputado federal e ator Alexandre Frota, que havia elevado o tom das críticas ao partido e ao presidente. O parlamentar tentava obter mais poder no diretório da legenda em São Paulo, rivalizando com o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.

As divergências com Eduardo também levaram à decisão da semana passada de tirar a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso.

Joice Hasselmann e Eduardo Bolsonaro já tiveram que fazer as pazes antes

As eleições de 2018 marcaram um salto enorme na história do PSL. O partido foi fundado por Luciano Bivar em 1994 e teve seu registro definitivo aprovado pelo TSE quatro anos depois. Durante as duas décadas seguintes, a legenda não obteve resultados expressivos nas urnas.

Junto com os votos, vieram os recursos públicos. O PSL recebe hoje cerca de R$ 8 milhões por mês do fundo partidário. A estimativa é que o total chegue a R$ 100 milhões em 2019 – em todo o ano de 2018, haviam sido apenas R$ 7,2 milhões.

Para as eleições de 2020, as verbas também aumentaram. No ano passado, a legenda recebeu menos de 1% do fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão. Nas eleições de 2020, serão 11% de um valor que deve ser ainda maior. É um partido que não tem programa, não tem uma proposta política, ou seja, é um partido criado para conseguir as benesses do poder.

Presidente foi o estopim

Tudo começou quando o presidente Bolsonaro foi gravado na semana passada falando mal do Bivar, presidente do PSL, que rebateu de forma veemente. Começou a questão: Bolsonaro fica ou sai do PSL? E os deputados que apoiam ele?

Como outros parlamentares do PSL, o senador Major Olimpio diz que não pretende deixar o PSL e que lutará pela permanência de Bolsonaro na legenda. Para ele, o problema é quem gravita em torno do mandatário.

Olimpio diz que os filhos do presidente, os advogados Karina Kuffa e Admar Gonzaga e “alguns parlamentares que desconhecem a estrutura” do PSL “alimentaram o presidente com informações que não correspondem à verdade do dia a dia” do partido. O grupo, segundo o senador, queria dar um “golpe de mão” e tomar a direção nacional do PSL.

Nesta quarta-feira (23), a ala ligada a Bivar pretende oficializar os afastamentos do deputado Eduardo Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro, filhos do presidente, do comando dos diretórios de São Paulo e do Rio, respectivamente.

Um setor mais radical considera que os bolsonaristas só baixarão a guarda quando o alvo for o próprio presidente. Também estão sendo avaliadas uma série de ações individuais na Justiça por calúnia e difamação.

Bancada do PSL, presidido por BIvar, se reúne com Jair Bolsonaro; Eduardo se sentou ao lado de Joice Hasselmann