27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

O que Bolsonaro não responde ao fugir dos debates com Haddad

Candidato do PSL é incapaz de dialogar por 5 minutos sem se alterar, ofender, gritar e mudar de assunto com uma mentira

Antes do tenebroso esfaqueamento que sofreu, durante comício em Minas Gerais, a equipe de Jair Bolsonaro (PSL) já havia decidido: ele não participaria mais de debates.

Após aparecer com uma cola ridícula na mão, com os dizeres “Pesquisas, Armas, Lula” e sofrer na retórica, principalmente contra Marina Silva, ficou evidente que ele não é articulado, e quando pressionando mostra sem despreparo.

Mas, após o lamentável caso da facada, que o levou a duas cirurgias e quase um mês de internação, o presidenciável fugiu de todos os debates. Isso até o convém: líder nas pesquisas, viu sua vantagem ampliar no conforto de não precisar responder pessoalmente assuntos espinhosos. A mentira virou sua maior arma.

Munido de atestados médicos, evitou debates, mesmo afirmando ser um soldado que não teme combates. No mais recente cancelado, o da Bandeirantes, o canal mudou até mesmo sua data, para após o atestado. Haddad, com doutorado, está ansioso e quer dialogar com seu oponente. Bolsonaro se esquiva. Diz que prefere falar com Lula.

Tentando conquistar um “emprego” sem passar por uma pesquisa com outros candidatos ou mesmo responder indagações de seus empregadores, Jair se acomoda ao lado de aliados, responde o que quer, mente como nunca e evita assuntos espinhosos.

Mesmo que não tivesse acontecido o caso lamentável da facada, ele fugiria do debate. Não sabe falar. Mortalidade infantil pra ele é caso de dentista, o problema da educação está no kit gay e outras sandices são motivos de esquiva. Caso estivesse em um debate na televisão, o candidato seria pressionado para responder algumas questões muito interessantes:

Quais são mesmo suas propostas? Ele se esquiva com falácias, como “a melhor política de saúde é o emprego”. Como se fosse um aluno de faculdade enrolando em apresentação oral, ele não é objetivo e claramente não tem conteúdo.

Seu vice, o General Mourão, e o economista guru Paulo Guedes, tem agendas completamente diferentes. Vez ou outra Bolsonaro precisa corrigir algumas falas, como fim do 13º, uma constituição escrita pelo próximo presidente, o que claramente houve na Venezuela, ou a volta do CPMF. Por que eles não entram em acordo? Qual destas ideias será colocada em prática?

Ele é mentiroso, enrola seu eleitorado com factóides há anos, mas seria bom ouvir dele mesmo: por que Bolsonaro não assinou um tratado para não publicar fake news? Neste final de semana, seu próprio filho, o deputado federal mais votado em São Paulo, acusou Haddad de ser pró-incesto e pró-pedofilia. Ele precisa falar sobre isso.

Ainda sobre fake news: Bolsonaro insiste que ambos os lados utilizam desta lamentável prática, mas é evitante: por que a maioria das mentiras são a seu favor? Ele precisa se posicionar sobre sua nojenta máquina de campanha, com mais de 1500 grupos de Whatsapp, criando e propagando mentiras.

Vale uma pelo contraditório: se ele se diz transparente e destemido, alguém que fala as coisas na cara, por que fugiu durante tanto tempo? Se a resposta foi a facada que levou, por que continua com lives filmadas pelos filhos ou entrevistas combinadas? Uma delas, inclusive, um deboche na Record, enquanto outros candidatos faziam um último debate na Rede Globo.

E finalmente, a violência: ele querer armar a população é chamar a polícia de incompetente? Deixar a segurança para as próprias pessoas não seria uma admissão de que as pessoas não precisam de polícia? Fato esse que, infelizmente, gerou uma série de atos de violência em todo o país.

Mas, infelizmente, é possível que nada disso aconteça. Bolsonaro é incapaz de dialogar por 5 minutos sem se alterar, ofender, gritar e mudar de assunto com uma mentira.