27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Outdoors em Alagoas pedem que Arthur Lira faça análise do impeachment de Bolsonaro

“Mais de 500 mil mortes. Como você quer entrar para a história, Arthur Lira?”., pergunta o banner que acusa o parlamentar de ser “cumplíce de um genocídio”

A cidade de Arapiraca, no Agreste de Alagoas, recebe hoje a campanha de outdoors que defendem a análise do “Super Impeachment”.

O alvo, claro, é o alagoano Arthur Lira (PP-AL), deputado federal presidente da Câmara e que tem o poder de colocar em pauta as análises de afastamento do presidente Jair Bolsonaro.

Um dos painéis questiona o deputado: “Mais de 500 mil mortes. Como você quer entrar para a história, Arthur Lira?”. O banner também expõe duas opções ao parlamentar: “cumplíce de um genocídio” ou “responsável por abrir o impeachment de um criminoso”. E finaliza: “Os dois não dá!”

Em outro outdoor, aparecem os dizeres: “Fome, mortes, corrupção”, com a foto de Lira ao lado de Bolsonaro. No painel, também consta outro apelo para que o presidente da Câmara analise o impeachment: “Lira, está em suas mãos! Aceite o impeachment”.

A ação é dos movimentos Acredito, Agora, Bancada Ativista, Muitas, Ocupa Política, Nossas, UNE e 342 Artes.

Aliado

No mês passado, em cerimônia no Planalto, o presidente Jair Bolsonaro escancarava a parceria de broderagem que tem com Arthur Lira (PP-AL), deputado federal que preside o Congresso. “Faz um trabalho excepcional”, disse ele ao alagoano que naquele dia o defendia da CPI e de pedidos de impeachment.

Em discurso que sobrou até para o Judiciário, expulso por Bolsonaro dos três poderes nacionais, foi confirmada a retórica de “eles contra nós”:

“Quem viveu e quem vive hoje com o Parlamento, bem como o nosso colega Rodrigo Pacheco no Senado, a gente vive para o Brasil. Costumo sempre dizer que não são três poderes, são dois poderes. É o Judiciário e nós para o lado de cá, porque nós formamos heteramente um casal”. Jair Bolsonaro, presidente.

Presidente Jair Bolsonaro com os presidentes eleitos do Senado, Rodrigo Pacheco e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Sérgio Lima/Poder360

Aliado

Bolsonaro, que um dia discursou exatamente contra o centrão e contra as políticas de ‘toma lá, da cá‘, hoje usa e abusa. E não importa se o faz para ganhar apoio ou por ser feito de refém: o problema é que para Bolsonaro sair, é preciso passar por cima de Lira.

O que não vai acontecer tão breve, pois Lira que, após receber um superpedido de impeachment contra Bolsonaro, já sinalizou que não vai dar sequência ao processo e que uma ação do tipo exige “materialidade”.

Oposição e movimentos sociais protocolaram o superpedido de impeachment, que reúne cerca de 120 ações em um só processo, apontando mais de 20 tipos de acusações. O que, segundo o alagoano, não seria suficiente.

“O que houve nesse superpedido? Uma compilação de tudo o que já existia nos outros e esses depoimentos. Depoimentos quem tem que apurar é a CPI. Vou esperar a CPI, está fazendo um “belíssimo trabalho, bem imparcial”. Então ao final dela a gente se posiciona aqui, porque na realidade o impeachment, ainda tem 120 na fila, como ação política a gente não faz com discurso, a gente faz com materialidade”. Arthur Lira.

Vejamos o que Arthur Lira dizia uma semana atrás:

“A minha função no impeachment é de neutralidade. Não sou eu que faço o impeachment. Você quer dizer que o presidente Bolsonaro não tem voto na Câmara para segurar um pedido de impeachment? Que ele não tem base de apoio popular para se contrapor a um pedido de impeachment? Então, o que é que estão querendo? Que eu desorganize o país, que eu comece uma conflagração de 122 votos que querem contra 347 que não querem? Vocês querem testar? O que a população quer é testar? Acha que é o caminho? Vamos testar. O que eu estou dizendo é que o impeachment é feito com circunstâncias, com uma política fiscal desorganizada, uma política econômica troncha. O impeachment é político”. Arthur Lira, há uma semana.

Ou seja: não importa se é por serem um casal hétero, sem primeira-dama, ou mesmo pela simbiose entre Bolsonaro e centrão. Para derrubar o presidente que recusou vacinas e incentivou imunidade de rebanho e literalmente matou brasileiros com isso, é preciso antes convencer (ou também derrubar) sua principal linha de defesa: o deputado Arthur Lira.

E caindo ou não, ainda seria preciso lidar com os resquícios do bolsonarismo.

Leia mais: O bolsonarismo ainda vive. E autoriza a matar e roubar, de olhos fechados ou não

Réu

Líder do centrão e forte aliado de Bolsonaro, Lira assumiu a presidência da Câmara como réu no STF e fora da linha de sucessão de Bolsonaro e Mourão.

Precedente determinado pelo STF em 7 de dezembro de 2016 estabeleceu que réus em ações penais no STF podem até comandar uma das Casas do Congresso, mas não substituir o presidente e o vice, caso os dois se ausentem do território nacional.

Foto: Ana Oli
Na época, foram analisadas duas ações questionando os casos de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, que presidiram a Câmara e o Senado naquele ano, e também eram réus.

Arthur Lira responde a oito investigações, sendo réu em inquérito no STF, acusado de receber R$ 106 mil de propina do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Colombo.

Ex-mulher

Já na mira de ações penais no STF (Supremo Tribunal Federal), ele também passa por uma acusação enviada à Vara de Violência Doméstica do Distrito Federal, apresentado pela sua ex- mulher, mãe de seus dois filhos, Jullyene Cristine Santos Lins, em agosto do ano passado, ao STF.

Na petição, anexada a um processo em que Jullyene acusa Lira de injúria e difamação, ela afirma que “o medo a segue 24 horas por dia, pois sabe bem o que Lira é capaz de fazer por dinheiro”. Por outro lado, Lira diz que, ao longo do tempo, as denúncias da ex-mulher “mostraram-se infundadas”.

Jullyene diz que o deputado, com quem foi casada por dez anos, faz insultos não só contra ela, “mas também tentando diuturnamente promover o afastamento familiar dos filhos, principalmente o mais novo, com discursos de ódio e chantagens emocionais”. Cita o “enquadramento do querelado na Lei Maria da Penha e necessidade de proteção urgente” para ela e o seu atual companheiro.

O processo foi aberto em decorrência de outra ação de violência doméstica movida por Jullyene contra Lira, em que o deputado foi absolvido nove anos depois. Em 2006, ela apresentou queixa por lesão corporal contra o então deputado estadual à Polícia Civil.