26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

PEC do voto impresso com maioria na Câmara mostra que impeachment ainda é uma longa realidade

PEC precisava do apoio de 3/5 do total dos deputados (308 votos), não maioria simples; Para o afastamento do presidente, 2/3 (342), muito mais

Presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Foto: Sérgio Lima

Apesar, ou por causa da pressão militar e do presidente Jair Bolsonaro, o plenário da Câmara dos Deputados rejeitou, na noite de terça (1o), a proposta que pretendia incluir um módulo de voto impresso ao lado das urnas eletrônicas a partir das eleições de 2022.

Atual bandeira do presidente, que esqueceu a pandemia e passou a se preocupar mais ainda com sua reeleição, a não aprovação da PEC do voto impresso (Proposta de Emenda à Constituição 135/19) foi considerada uma derrota do governo. Mas os números poderiam ter sido piores.

Para a provação de uma emenda à Constituição, são precisos três quintos dos 513 congressistas. Ou, 308 votos. Apesar de nem chegar perto deste número (229 votaram a favor), mesmo assim superaram aqueles que votaram contra o governo Bolsonaro (218).

 

E levando em conta que quase 230 congressistas resolveram endossar e aprovar uma emenda sem sentido – a urna eletrônica já é auditável e colocar a impressão facilitaria fraude, como em 1994 – deve-se supor que eles estariam alinhados com o governo Bolsonaro em outras pautas.

Inclusive sua permanência no poder.

Como se sabe, Arthur Lira, presidente do Câmara, possui em sua gaveta mais de 100 pedidos de impeachment contra o presidente. Os motivos são diversos e podem ser encontrados clicando aqui. São tantos que até mesmo diferentes lados políticos se reuniram para o “super pedido” de impeachment. Lira segue sem pautá-lo.

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Para a PEC do voto impresso houve 64 ausências, Arthur Lira como presidente não vota e Aécio Neves foi o único em cima do muro. A casa não estava cheia. E seria diferente em um eventual pedido de impeachment. Que ao contrário de 308 votos, precisaria de 342, pois para o afastamento do presidente são necessários 2/3 do Congresso.

Ou seja: além do interesse capital e político, uma conjuntura que ainda não existe hoje e tomando como base a votação da PEC do voto impresso, a oposição precisaria de 124 votos a mais do que teve nesta terça-feira. Seriam precisos mundos e fundos para que mais entrem na oposição para retirar Bolsonaro.

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O detalhe é que o presidente sabe disso. Ou ao menos tem uma noção de que, politicamente, está intocável. Seja pela força do centrão, por sua campanha de desinformação ou pela simples ameaça de autogolpe. E enquanto isso, o presidente segue brincando de soldado, ou capitão, durante a maior crise política, econômica e sanitária que o Brasil sofre nos últimos anos.