26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Secom da Presidência da República privilegia clientes de Wajngarten e TVs religiosas

‘Mamata’ que iria para a Globo agora favorece Record, de Edir Macedo, e SBT, de Silvio Santos, além da Band, também parceira do chefe da Secom

‘Mamata’ que iria para a Globo agora favorece Record, de Edir Macedo, e SBT, de Silvio Santos, além da Band, também parceira do chefe da Secom

Fabio Wajngarten, responsável pela Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) fez mudanças na estratégia e privilegiou na distribuição de verbas TVs sobre a reforma da Previdência, a maior e mais cara campanha de publicidade do Planalto, clientes de uma empresa do secretário e emissoras religiosas. Todas apoiadoras do presidente Jair Bolsonaro.

Na primeira fase da campanha, de R$ 11,5 milhões, veiculada de 20 de fevereiro a 21 de abril, o plano de mídia definiu que a TV mais contemplada com recursos seria a Globo nacional, líder de audiência e que atinge maior público.

Entretanto, após Wajngarten assumir o cargo em abril, a Secom mudou a orientação. Na segunda etapa da campanha, o plano de mídia excluiu a Globo nacional da lista de contratadas, mantendo apenas praças regionais da emissora, cujos anúncios são mais baratos.

Isso fez com que concorrentes de menor audiência ficassem com a maior fatia das receitas. O investimento da segunda fase, para todos os meios de comunicação, foi de R$ 36,7 milhões. Record, Band e SBT foram contempladas, respectivamente, com R$ 6,5 milhões, R$ 1,1 milhão e R$ 5,4 milhões, totalizando R$ 13 milhões.

Fabio Wajngarten, Chefe da Secom de Bolsonaro

Fabio Wajngarten, o Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, recebe através de uma empresa que é sócio dinheiro das emissoras Band, Record e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro.

Bolsonaro e Wajgarten fazem ataques recorrentes à Globo, com o discurso de que a emissora persegue o governo em sua cobertura jornalística.

Nos governos anteriores, a emissora carioca recebia a maior parte do bolo, tendência que agora se inverteu. Além de críticas duras à emissora global, Bolsonaro ainda prioriza entrevistas exclusivas e com links ao vivo para Band e Record.

Os programas dos apresentadores Datena (Band) e Ratinho (SBT), escolhidos recorrentemente por Bolsonaro para dar entrevistas em que defende medidas de sua gestão, vêm sendo contemplados com dinheiro para merchandising.

Cala a boca

A relação apresenta não só um conflito de interesses, como é proibida pela legislação, pois o governo não pode manter relação com empresas que possam ser afetadas por suas decisões.

A prática implica conflito de interesses e pode configurar ato de improbidade administrativa, demonstrado o benefício indevido. Entre as penalidades previstas está a demissão do agente público.

Entretanto, o presidente Jair Bolsonaro resolveu manter Fabio Wanjgarten no cargo mesmo após a revelação de que ele possui um empresa que recebe dinheiro de contratadas do governo.

“Se foi ilegal, a gente vê lá na frente. Mas, pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional. Se fosse um porcaria, igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele”. Jair Bolsonaro, presidente.

Bolsonaro comentou o assunto 10 dias atrás, após ser questionado três vezes sobre a permanência do secretário, na manhã desta quinta, na saída do Palácio da Esplanada. Ele se recusou a responder questionamentos feitos pela Folha e disse que o jornal não tem moral para fazer perguntas.

“Fora, Folha de S.Paulo, você não tem moral para perguntar, não. Cala a boca”. Jair Bolsonaro, presidente.