30 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro foi a AL para atacar Renan e inaugurar obras inauguradas ou que não eram dele

Ao lado de Collor e Lira, viagem de falsidades aos gritos de mito teve “Título de Cidadão Honorário” fake como a cereja do bolo

Fotos: Allan Santos/PR

Em mais um contato de perto com seus fãs nesta pandemia, o presidente Jair Bolsonaro fez mais uma viagem-espetáculo em sua busca por indícios de popularidade. E em Alagoas, nesta quinta (13), como não poderia deixar de ser, o foco foi 2022 e a mortandade imposto pelo coronavírus ficou de lado.

Com ele, estavam políticos locais, como o senador Fernando Collor (aliado “diferenciado” que quer muito orientar seu presidente), o presidente da Câmara, Arthur Lira (que promete com afinco o voto impresso) e o prefeito de Maceió JHC (que em suas redes sociais, se esquivou e sequer mencionou o presidente). Claro, o governador Renan Filho não compareceu.

Sem máscara, para não perder o sorriso na foto, e próximo do eleitorado, que de forma preocupante agia como se acima de tudo adorasse o líder de um culto ou de uma seita, Bolsonaro repetiu o que fizera em suas viagens em outros estados: discursou contra rivais, inaugurou o que já estava inaugurado e tomou para si a autoria da obra de outros governos.

Durante sua passagem em Maceió, que começou atribulada com um protesto que fechou as vias de acesso do Aeroporto, Bolsonaro vendeu um mais um dia de ilusão.

Quem estava lá por interesses próprios ou fechava os olhos para o óbvio, parecia viver em um país livre de crises. Nem parecia que, ao mesmo tempo, na CPI, a Pfizer confirmava que o governo negou diversas vezes vacinas em 2020.

Enquanto isso, na CPI 

A CPI da Pandemia tem Renan Calheiros, político macaco velho que já foi ministro da Justiça e é senador desde 1995, tendo presidido o Senado em três mandatos. Hoje, ele é relator da comissão que tem o objetivo de comprovar o óbvio, enquanto lida contra exatamente o que o Brasil sobreviveu e sobrevive nesta pandemia: desinformações, negacionismo, agressões e mentiras.

E depois do ex-chefe de comunicação do presidente, Fabio Wajngarten, mentir até dizer chega e receber voz de prisão na terça-feira (11), governistas declararam guerra. E o presidente passou a agir, diretamente.

Além de endossar a agressão do filho 02 Flávio Bolsonaro ao relator, que o chamou de vagabundo, em uma clara perda de decoro parlamentar, Jair passou a fazer o mesmo na “terra de Renan”. Puxando o coro, ele regeu a população que gritava “fora Renan” e “Renan vagabundo”.

Isso porque, como sempre, política e amigavelmente ele falhou. Semanas antes, ele chegou a ligar para Renan Filho (o governador de Alagoas, filho de Calheiros, não o Renan filho de Bolsonaro, que ganha carro e outros mimos em forma de lobby) para tentar uma aproximação com o senador. Mas o contato não foi profícuo.

Por mais que Collor tente guiar o atual presidente (afinal, elle sabe bem o que é baixa popularidade e impeachment), Bolsonaro prefere ofender, ir para guerra. Sem paciência, foi para o tudo ou nada. Quer Renan Filho convocado como suspeito na CPI. Quer Renan Calheiros fora da CPI, por suspeição do cargo. Quer que as pessoas fechem os olhos e comam pizza.

Mas Bolsonaro conseguiu ao menos uma coisa: incomodar. Renan Calheiros se sentiu na necessidade de mencionar a viagem inoportuna do presidente, em que aproveitou para ofender ele e a CPI. Como resposta, disse em vídeo que o objetivo está nas mais de 430 mil pessoas mortas.

E seguindo o relator, Renan Filho fez o mesmo. Além de compartilhar crítica de Rodrigo Maia, foi enfático ao dizer que a visita de Bolsonaro a Alagoas é por causa do desespero dele com a CPI e os números para 2022.

Mentiras em Alagoas

Em sua passagem, o presidente chamou o senador Renan Calheiros de “picareta” e “vagabundo”. Claro, não o citou por nome, mas não houve dúvidas para quem fora o recado.

Durante eventos em Maceió, o próprio presidente incentivou coros do público contra o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito.

“Se esse indivíduo quer fazer um show tentando me derrubar, não o fará. Somente Deus me tira daquela cadeira”. Jair Bolsonaro, presidente.

O público presente também se manifestou com coros contra o ex-presidente e o PT, como “Lula ladrão” e “nossa bandeira jamais será vermelha”. Bolsonaro, claro, não está preocupado só com Renan e a CPI, mas também com as intenções de voto para 2022: hoje, ele vê sua popularidade derreter e o petista próximo de vencer, até mesmo já no primeiro turno.

Para contornar isso, nada como passar a impressão de ser apoiado e amado. Além, claro de inaugurar alguns feitos, mesmo que não tenha sido responsável por nenhum deles.

O governador de Alagoas, por exemplo, ficou de fora da “inauguração” do Viaduto da PRF, que teve investimentos na ordem de R$ 77,4 milhões, conquistados após interferências do senador Renan Filho, nos governos Dilma e Temer. Claro, a obra já tinha sido inaugurada no ano passado e com a presença do governador.

Foto: Itawi Albuquerque

Outra conquista que Bolsonaro quis tomar para sim foi a entrega do Conjunto Habitacional Oiticica I, com 500 unidades. Transformando mais um objeto fálico em arminha ou fuzil, o presidente se armou com a chave do conjunto, plotada com seu programa “Casa Verde Amarela”, mas a construção foi um feito do Minha Casa Minha Vida.

O Governo Federal autorizou a Prefeitura de Maceió, no primeiro semestre de 2018, a efetivar a contratação de novas unidades habitacionais pelo Programa Minha Casa Minha Vida, totalizando 2.460 imóveis e um investimento de aproximadamente R$ 197 milhões. Entre eles, Oiticica I.

E para um presidente que se vangloria das ações do outros pra dizer que é dele, a inauguração de um trecho do Canal do Sertão Alagoano não poderia faltar. De acordo com o governo federal, esta etapa da obra tem a extensão de 30,47 quilômetros e irá beneficiar mais de 113 mil moradores e pequenos produtores rurais da região.

O primeiro deles foi inaugurado no governo Dilma, em 2013. Desta vez, Bolsonaro e Collor inauguram trecho IV prometendo “compromisso com Alagoas”.

E para fechar com chave de ouro uma passagem com objetivos todos e feitos sem propriedade, nada melhor do que um título fake. Em Maceió, o presidente recebeu uma ´placa de “cidadão maceioense”, entregue pelo vereador bolsonarista Leonardo Dias. Mas projeto para conceder a honraria nunca foi votado na Câmara Municipal. Com muita revolta, aliás, foi retirada de pauta.

Mas o que é verdade nos dias de hoje, afinal? A dúvida paira não só por hoje, mas durante muitos anos, quando alguém negar que a Câmara de Maceió vetou o título de cidadão honorário ao presidente responsável pela maior crise sanitária da história recente, seu apoiador estará lá para garantir: deu sim, eu vi a foto.

Afinal, o que é mais importante para um presidente que não se importa com a frescura e mimimi de vítimas e enlutados, do que a impressão de que está tudo muito bem, obrigado?