27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro e Carluxo vão mudar discurso sobre vacina por causa da eleição

Com mais de 70% da população vacinada, virou questão matemática fingir nunca ter sido negacionista para recuperar votos

Responsáveis pela rede de desinformação presidencial foi montada por Carlos Bolsonaro

Passado dois anos de pandemia, o presidente Jair Bolsonaro vai abandonar a retórica antivacina. Não por causa da redução de mortes, reabertura de comércio e robustas provas de que a vacinação contra Covid-19 funcionou. Será por causa da eleição.

O entorno negacionista do presidente se atentou para um detalhe: com mais de 70% da população vacinada, a questão se tornou matemática. E até para quem não gosta de dados, ficou fácil de observar que eles estão falando para uma minoria. O que não é ideal se você quer ganhar um processo democrático.

No final do mês passado, o PL, novo partido de Bolsonaro (e que o presidente quer todo pra si), fez uma pesquisa interna sobre a avaliação do governo e atentou que priorizar tratamento precoce no lugar de vacina estava fazendo ele perder votos.

E no final de fevereiro, há poucas semanas em uma live de quinta, entre outros inúmeros ataques de sempre, mais uma vez criticou a vacinação no Brasil. Discurso esse que repercutiu apenas no gado, pois no mesmo dia a Rússia começou a bombardear a Ucrânia.

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Agora, até o vereador carioca Carlos Bolsonaro, diretor de campanha do pai aceitou isso. Demoraram, mas perceberam o óbvio. Carluxo, filho 02, e o pai Jair são dois dos maiores negacionistas.

Publicamente, Flávio e Eduardo, os 01 e 03, já se vacinaram, assim como suas esposas. O presidente, até hoje, jura que não o fez (apesar de esconder o cartão de vacinação por um século). Só que isso vai mudar.

Claro, apesar do abuso de lógicas burras e duplipensar, até para eles vai ser difícil ignorar que, durante todo esse tempo, o presidente Jair Bolsonaro agiu de forma safada contra a vacinação. O meio termo será a compra das vacinas.

“Eu gostaria de perguntar a alguns seres humanos que me antecederam quem foi que comprou 400 milhões de doses de vacina para o Brasil? Foi o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva ou foi o presidente Jair Bolsonaro?” Quem foi que destinou os bilhões de reais para estados e municípios combaterem a Covid ao longo dessa pandemia? Como é que uma pessoa pega e tem a cara de pau de dizer que o presidente Bolsonaro é isso e aquilo o tempo inteiro, com provocação e sem nenhuma objetividade, presidente”? Carlos Bolsonaro, em vídeo na Câmara do Rio de Janeiro.

A lógica, portanto, será essa: seu pai, Jair, fez o mínimo e comprou vacinas. E vai exigir aplausos (e votos) por fazer o mínimo numa pandemia.

Não dá pra esquecer

O detalhe, que pode ter passado desapercebido, é que de forma safada e cretina o presidente enrolou, durante meses, para comprar as vacinas. O fez por pressão popular. Dizia que as mesmas não eram necessárias, porque já tinha hidroxicloroquina.

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Discursos e ideias matam. E o presidente, que, não vamos esquecer já possuía uma retórica caótica, manteve sua incoerente coerência durante toda a crise do novo coronavírus (fiquem atento aos links em cada um dos tópicos):

Diante de tantos exemplos de erros, equívocos e falas hediondas, é obvio que Bolsonaro mentiu e manipulou tanto que não pode mais voltar atrás.

Mesmo ficando cada vez mais absurdas, conspiratórias e forçadas, ele não pode recuar de suas mentiras por causa de seu curral eleitoral. Seu gado acredita em todas as suas palavras e qualquer rachadura em seu discurso minaria a coisa mais importante para ele no momento: as eleições de 2022. Por isso vai tentar se manter no “mas eu comprei milhões de vot… doses”.

Independente disso, é preciso deixar claro que o que não faltou ao presidente foram informes, briefings, atualizações científicas, apelos de especialistas e comparações com casos de sucesso ou de fracasso.

Bolsonaro fez, faz e vai continuar fazendo tudo de errado. Mas sabemos que lembrar isso é dar murro em ponta de faca: os obcecados que agem como audiência da Praça é Nossa durante suas falas e defendem seus ideais burros e mentirosos são uma prova de que discursos e ideais matam.

O que é uma vantagem para Carluxo: falou-se tanta merda, tanta besteira, tanta coisa hedionda, que parece até mentira. E quando a verdade aparenta ser debochada, o negacionismo de quem agiu contra parece até mesmo… uma mentira. Pena que brasileiro tem memória curta. Pior ainda os mais de 600 mi silenciados na eleição deste ano.